Estimativas do U.S. Geologic Survey indicam que a produção mundial do nióbio, em
2001 ter-se-ia mantido no mesmo patamar do
ano anterior. De acordo com Crowson (2001, p. 286), a produção mundial em 1999
foi de 23.690 toneladas (em termos de nióbio contido), sendo que o Brasil manteve a
liderança histórica, com 88,9%
do total. A produção canadense
foi equivalente a 10,0% do total mundial, ao passo que Austrália (0,6%), Ruanda (0,3%) e Nigéria(0,1%)
completaram a lista dos produtores mundiais do nióbio.
A indústria do nióbio é um negócio
com dimensões relativamente
pequenas. De acordo com Crowson (2001),
o valor da produção do nióbio, em 1999, foi estimado em US$ 224 milhões. Trata-se
de um pequeno valor em comparação, por exemplo, com o zinco (US$ 9,02 bilhões)
e o níquel (US$ 6,21 bilhões), mas bastante superior ao do tântalo (US$ 45
milhões).
Produção e exportação brasileira de ferronióbio
O ferronióbio é produzido principalmente no
Brasil e no Canadá. Duas empresas estão localizadas no Brasil: Companhia
Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM, de propriedade do grupo brasileiro Moreira
Salles e da mineradora norte-americana Molycorp) e a Mineração Catalão de Goiás
(originalmente uma joint-venture entre a Anglo-American e um grupo de
investidores reunidos na empresa Unamina) A terceira é a Niobec, localizada no
Canadá, que possui seu controle compartilhado entre duas outras empresas
canadenses, Cambior e Mazarin (Quadro 13). Atualmente, a CBMM possui uma
capacidade instalada para a produção
de ferronióbio de 45 mil
toneladas anuais, ao
passo que a
da Mineração Catalão de
Goiás é de 5.200
toneladas, e da Niobec,
de 4.500 toneladas.
QUADRO 13
A INDÚSTRIA MUNDIAL DO FERRONIÓBIO, 2000
Controlador GRUPO MOREIRA ANGLO-AMERICAN
CAMBIOR (50%), SALLES (55%), (100%) MAZARIN (50%) MOLYCORP (45%)
Início das Operações 1961 1977 1976
Localização Araxá Catalão e Ouvidor Oka
das Minas (Minas Gerais) (Goiás) (Québec,
Canadá)
Tipo do Minério Pirocloro Pirocloro Pirocloro
Tipo de Operação da Mina Céu Aberto Céu
Aberto Subterrânea
Tempo de Vida da Mina Alguns
Séculos 30 anos 16 anos
Localização da Usina Araxá Catalão Oka
(Québec,
de Metalurgia (Minas Gerais) (Goiás) Canadá)
Produção (toneladas
em nióbio contido) 15.477 2.741 2.170
Faturamento (US$ milhões) 213 38 32
Exportações /
Faturamento (%) 95 100 -
Número de Empregados 269 319 185
FONTE: BRASIL MINERAL, DNPM; Empresas;
SILVA, 2001b; Metal Bulletin; Exame
Maiores e Melhores, Balanço Anual da
Gazeta Mercantil
Em 2000, a CBMM produziu 15.477 toneladas de
nióbio contido em ferronióbio e 1.274 toneladas na forma de óxido de nióbio. A
empresa destinou 94,5% de sua produção ao mercado externo naquele ano. As exportações de ferronióbio da CBMM atingiram 14.630 toneladas de nióbio contido, resultando em exportações
de US$ 194,2 milhões. A Mineração Catalão de Goiás, por sua vez, produziu 4.123
toneladas de ferro-ligas, o equivalente a 2.741 toneladas de nióbio contido (Silva, 2001b, p. 87). Toda a
produção dessa empresa foi exportada, gerando exportações de US$ 37,9 milhões.
Portanto, essa atividade mineral, mesmo atendendo à totalidade da demanda interna,
é fortemente direcionada ao mercado externo.
De acordo com BNDES (2000c, p. 4), na
indústria brasileira de ferro-ligas, o ferronióbio vem se destacando como o
único produto a apresentar crescimento real no volume produzido, tanto no
curto, quanto no longo prazo. Ele apresentou um crescimento praticamente contínuo durante a década de
1990, passando de 13 para 27
mil toneladas exportadas, em 1990 e 1998, respectivamente. Em termos financeiros, as receitas
das vendas externas
passaram de US$ 111 para US$ 242
milhões, representando sozinho cerca de 43% do valor das exportações
brasileiras de ferro-ligas. Adicionalmente, seu preço variou positivamente em
6,14% no período 1990-1998, atingindo em média US$ 8.787 por tonelada nesse
último ano.
O
Segmento de óxido de nióbio
O segundo segmento de mercado da indústria
de nióbio refere-se à produção de óxido de nióbio. A CBMM é a única empresa que
atua nos dois segmentos, produzindo óxido de nióbio a partir do pirocloro, ao
passo que todos os outros participantes do mercado o fazem por meio do processamento
da columbita-tantalita, na qual o nióbio é obtido como um subproduto do
tântalo.
Outra alternativa refere-se aos chamados
produtores não-integrados de óxido de nióbio. A CBMM, em 1999, detinha cerca de
55,8% da capacidade mundial instalada de óxido de nióbio para ligas e metais e
17,6% de óxidos especiais de nióbio (TAB. 25).
TABELA 25
A INDÚSTRIA MUNDIAL DE ÓXIDO DE NIÓBIO, 1999
(TONELADAS)
LIGAS E METAL ÓXIDOS ESPECIAIS TOTAL
CBMM (Brasil) 2.400 150 2.550
Metallurg (EUA) 1.200 - 1.200
H.C. Starck (Alemanha) 300 300 600
Cabot (EUA) 100 -
100
Oremet-Wah Chang
(EUA) 300 - 300
Mitsui (Japão) - 400 400
TOTAL 4.300 850 5.150
FONTE: BNDES , 2000c, p. 4
O
caso CBMM
É interessante analisar quais têm sido as
principais estratégias da CBMM com o objetivo de manter sua expressiva participação (com cerca de
72% do mercado
mundial de nióbio). Dois parecem ser os pilares da estratégia
competitiva da empresa: a) elevados investimentos, aumentando a capacidade
instalada, que permitam garantir
o atendimento de um eventual
crescimento da demanda; b)
alto grau de verticalização, sendo a única
empresa a atuar tanto
na produção de ferronióbio quanto na de óxido de nióbio.
A
CBMM concluiu, no
biênio 2000-2001, investimentos
da ordem de US$ 82,5
milhões. Desse total, US$ 45 milhões foram gastos
na implantação da
tecnologia pirometalúrgica, em substituição ao processo
anterior de lixiviação, garantindo
economia de custos e
melhor qualidade do processo
produtivo. Isso também per mitiu a ampliação da capacidade de produção de
concentrado de nióbio de 50 para 84 mil toneladas anuais. Em
termos de produtos finais, a
capacidade instalada de ferronióbio subiu de 30
para 45 mil toneladas anuais
(QUADRO 14). Expandiu-se a capacidade de
óxido de nióbio de alta pureza, de 2.400 para 3.000 toneladas, bem como a de
níquel-nióbio e de ferronióbio grau vácuo,
de 800 para 1000 toneladas anuais. Apenas
a capacidade instalada de óxido de
nióbio grau óptico (150 toneladas anuais) e a de nióbio metálico (60 toneladas
anuais) mantiveram- se inalteradas. Mesmo
assim, cabe ressaltar
que, para 2003,
a capacidade de
nióbio metálico será expandida para
210 toneladas anuais,
a um custo de US$ 7 milhões.
Como já mencionado, a CBMM é a única a atuar
tanto no segmento de ferronióbio quanto de óxido de nióbio. De fato, deve-se enfatizar que a empresa possui o mix de produtos mais
amplo do
mercado,
incluindo: ferronióbio standard
(que começou a ser produzido em
1964), óxido de
nióbio
alta pureza (1980), níquel-nióbio e
ferronióbio grau vácuo (1982), nióbio metálico
(1989) e óxido de nióbio
grau óptico (1998).
Em face da
recorrente verticalização e
ampliação do mix
de produtos, desde 1981, a CBMM
não vende mais o concentrado de nióbio no mercado. Adicionalmente, dentro do
objetivo global de aumentar a dimensão do mercado, a empresa mantém um programa
de assistência e desenvolvimento técnico
de mercado nas
diversas partes do
mundo. Nessas e
nas atividades de pesquisa
e desenvolvimento, a empresa
geralmente investe cerca
de 2% do seu faturamento anual.
QUADRO 14
CAPACIDADE INSTALADA DA CBMM
INÍCIO DE CAPACIDADE CAPACIDADE
PRODUTO PRODUÇÃO CONTEÚDO PRÉVIA* ATUAL*
Ferronióbio Standard 1964 65 - 67 Nb 30.000
45.000
Óxido de Nióbio Alta Pureza 1980 99 Nb2O5
2.400 3.000
Ferronióbio Grau Vácuo e 1982 65 Nb 800
1.000
Níquel-Nióbio Grau Vácuo
Óxido de Nióbio Grau Óptico 1998 99.9 Nb2O5
1 50 150
Nióbio Metálico 1989 99.9 Nb 60 60
FONTE: CBMM
NOTA: * em toneladas.
Novos
entrantes na indústria mundial de nióbio
No que se refere a novos entrantes nesse
mercado, existem duas possibilidades principais: exploração do pirocloro ou da
columbita-tantalita. No primeiro caso, o projeto mais avançado é da Niocan,
localizado também em Oka (Québec, Canadá).
A empresa foi constituída em 1995, tendo investido, desde então, mais de US$
6 milhões para desenvolver o depósito,
situado aproximadamente a 40 quilômetros de Montreal. O projeto, cuja
previsão inicial era de entrar em operação em 2002, prevê uma capacidade instalada
de 4.500 toneladas de ferronióbio (2.800 toneladas de nióbio contido).
Estima-se que as reservas sejam suficientes para 15 anos de operação, durante
os quais o empreendimento empregará 150 pessoas.
No segundo caso, a Mamoré (produtora de
estanho controlada pelo grupo Paranapanema) entrou nos mercados de tântalo e nióbio, como fornecedora de matéria-prima, em 1998, com quantidades médias de 50 e 500 toneladas de tântalo e nióbio contidos, respectivamente.
Além disso, em agosto de 2000, a empresa inaugurou, em São Tiago (Minas Gerais),
uma planta de óxidos com capacidade para tratar 2.000 toneladas de liga por
ano, que é atualmente capaz de produzir 100 toneladas de tântalo, 250
toneladas de óxido de nióbio e 1.000 toneladas de fer ronióbio. Estima-se que
essa planta gere um faturamento de US$ 25 milhões anuais, distribuídos entre
US$12 milhões com o tântalo, US$ 4 milhões com o óxido de nióbio e US$ 9,3
milhões com o ferronióbio(Brasil Mineral, 2000, n. 186). No primeiro semestre
de 2001, a Mamoré produziu 4,9 mil toneladas de estanho metálico, 21 toneladas
de óxido de tântalo, 71 toneladas de óxido de nióbio e mais 49 toneladas de
ferronióbio (Gazeta Mercantil, 6 ago. 2001). Apesar da pequena dimensão, a
Mamoré poderá aumentar seu envolvimento
com o negócio do
nióbio, como consequência do
projeto Rocha Sã, em sua mina de
Pitinga (Amazonas). Assim, pode-se esperar que, em médio prazo, o
número de produtores mundiais de ferronióbio se eleve.
Preços
Segundo
BNDES (2000c, p.
7), de todas
as aplicações do
nióbio, apenas para
os supercondutores, cujo consumo não atinge 2% da demanda mundial desse
metal, não existem substitutos
diretos. Para todas as demais aplicações, o
nióbio sofre a concorrência técnica do vanádio, titânio,
molibdênio, tungstênio e tântalo
que, isoladamente ou combinados em certas proporções, podem
conferir ao produto que os contém características próximas àquelas transmitidas
pelo nióbio. Assim, a possibilidade de novos entrantes e de metais concorrentes
acabam por limitar uma elevação mais significativa de preços, mesmo num
contexto de alta concentração de mercado.
De
fato, os preços
do nióbio são
bastante estáveis, o que o
diferencia muito do comportamento cíclico e instável de outros
minerais, como níquel e zinco, para citar apenas dois exemplos. De fato, os
preços do ferronióbio têm mostrado poucas alterações ao longo de duas décadas.
Eles aumentaram gradualmente, de US$ 10 por quilograma de nióbio contido em
1977 para US$ 15 por quilograma de metal contido na segunda metade da década de
1990 (GRAF. 9).
GRÁFICO 9
EVOLUÇÃO DO PREÇOS DE FERRONIÓBIO,
FERROVANÁDIO E FERROTITÂNIO, 1977-2001
(US$ / QUILOGRAMA DE METAL CONTIDO)
FONTE:
BORDIGNON, VARGAS & SOUZA ,1998, CBMM
Informações colhidas junto ao DNPM ratificam
um comportamento mais estável de preços do ferronióbio, algo bastante peculiar
em produtos minerais metálicos. Ao longo do período 1988-2000, não foram
observadas grandes oscilações. A liga ferronióbio apresentou um crescimento de20,
84% em valores nominais e um decréscimo de 7,97% em termos reais. Por sua vez,
o óxido de nióbio teve um crescimento de 37,88% em valores nominais e 5,01% em
reais. Quando se considera que a comercialização do ferronióbio e do óxido de
nióbio é realizada diretamente pelas empresas produtoras e não por meio
de bolsa de mercadorias, ratifica-se
que o nióbio não se comporta como uma commodity.
Adicionalmente, no caso da CBMM, a
comercialização e a distribuição dos produtos são realizadas por meio de subsidiárias
localizadas em Dusseldorf (Alemanha), Pittsburgh (Estados Unidos) e Tóquio (Japão), nesse
último em associação com a trading company japonesa Nissho Iwai.
Cada uma das empresas mantém estoque para
suprir o mercado de suas regiões por três meses, garantindo estabilidade de
fornecimento e entregas just-in-time. Isto é, naturalmente, coerente com o fato
de que,
no ano 2000, a distribuição
geográfica de nióbio foi a
seguinte: Europa (37%), América do Norte (34%), Japão
(19%) e demais países (10%)
ver Heisterkamp & Carneiro(2001,
p. 3).
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De um modo sucinto, pode-se afirmar que: as
perspectivas do crescimento da demanda de nióbio são boas, podendo-se acreditar
que ele mantenha o ritmo histórico de 2,6% ao ano; considerando o caso
brasileiro, tanto a CBMM (Minas Gerais) quanto a Mineração Catalão de Goiás
(Goiás) recentemente concluíram expansões. No caso da primeira, contemplou- se
não apenas a ampliação da produção de ferronióbio standard, mas também de
outros produtos de maior valor agregado. Adicionalmente, a capacidade ociosa
mundial na produção de ferronióbio é da ordem de 40%. Assim, não existe nenhuma
razão objetiva para esperar uma nova rodada de investimento das empresas já
atuantes no mercado; mesmo com a
possibilidade de novos ingressantes
na indústria mundial do nióbio, é
sensato esperar que Minas Gerais, por intermédio da CBMM, venha manter sua
posição de liderança nessa indústria, mesmo a longo prazo.
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